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terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Solilóquio 5: Porque faz com que a sua própria felicidade dependa dos desígnios da fortuna.

Ego - Dessa vez eu não apenas demorei alguns dias para escrever no blog como decaí de toda a disciplina que vinha conseguindo ter. Não fiz nenhuma atividade física, não li direito. Não tenho prosseguido adequadamente nos meus estudos, não estou conseguindo ter horários... enfim... 


Alter Ego - Por quê tudo isso aconteceu?



E - Eu sou comumente invadido por uma sensação estranha de que nada do que eu faço está dando resultado. Sinto que estou atrasado... que não estou chegando a lugar nenhum. Mas na verdade... nem é bem isso...



A - O que é então?



E - O que ocorre primeiro é que eu me sinto cansado da rotina. Eu realmente me enjoo de fazer as coisas e começo a não conseguir manter tudo em ordem. Então, ao perceber que eu estou de novo caindo no mesmo buraco de sempre, isso me deprime e apavora. É nesse momento em que eu paro de me mover para cima que eu então acabo olhando em volta. E aí, quando não fixo mais meu olhar na minha esperança, nos meus sonhos, então eu vejo como as coisas estão agora e isso me deixa horrorizado. Tenho então um desgosto profundo por viver. Mas esse pavor somado ao cansaço me fazem a muito custo voltar a olhar para cima.



A - Para onde você quer ir?



E - Eu não sei de verdade... eu ainda não sei... 26 anos e ainda não sei.



A - Mas existe uma coisa da qual você realmente gosta. É o motivo que lhe leva a produzir hoje esses textos.



E - Sim, eu quero trabalhar dando aulas de filosofia e também como pesquisador. Mas também tenho vontade de produzir de fato filosofia. Isso é mesmo o meu sonho.



A - E isso lhe realizaria?



E - Sim.



A - E como ainda não atingiu a tal alvo, acaba se considerando infeliz.



E - É.



A - Então você é um tolo, um louco...



E - Por quê?!



A - Porque faz com que a sua própria felicidade dependa dos desígnios da fortuna. Você coloca a possibilidade da sua realização lá no futuro, abrindo mão desse seu presente. Na verdade, essa é a questão: você quer fugir do que está aqui.



E - É verdade... eu, ser humano, estou cercado pela transitoriedade. Tudo está em movimento, a minha vida está sendo sugada por aquele mesmo mistério que a deu. E esse movimento me faz ter desespero... não quero perceber que vou, que sou limitado... que não sou deus. Então, fujo do presente que me desespera por não ser palpável e crio um futuro que eu enxergo ao menos na minha própria mente. Mas... essa ilusão que nunca chega faz o agora parecer pior ainda, porque quanto mais olho para lá mais me frustro com isso aqui. Mas como fazer? Desistir de ir? Eu não deveria ter um propósito?



A - Ora, teu propósito é aquilo que lhe escolhe e que é escolhido por você. É aquilo que quando você faz produz na sua alma a sensação de que não há outra coisa para ser feita. Isso você já experimentou, não é?



E - Sim! Eu me sinto assim quando estou pensando as questões a respeito da vida. Quando entro em mim mesmo, como agora, para prescrutar. Acho que para quem faz isso é que se dá o nome de filósofo.



A - Mas se aí está o que você quer, já lhe sendo acessível, porque não descansas e simplesmente exerce isso? Qual é o teu desespero de fato?



E - É que com isso não consigo agora prover-me de sustentação financeira. Não consigo cooperar nos gastos de minha família comigo. Não consigo também ter algum certo conforto. De fato, no aspecto material, minha vida tem sido de penúrias.



A - Mas isso ocorre porque você até hoje não ousou descansar e usar aquilo que aí está, fica sempre esperando o futuro chegar. É necessário deixar o medo e investir naquilo que você ama. Assim é que conseguindo se aprofundar em alguma coisa você irá lapidar um talento com o qual possa conquistar a vida. A tua sociedade é organizada de forma que isso é possível, então, foca! É claro que o tempo passou, mas olhar para isso agora vai ajudar no que? Foca!



E - Mas nem sou apenas eu... todos a minha volta parecem esperar algo... parecem que antes apostaram muito em mim mas agora... apenas assistem ao meu fracasso... 



A - Ou será que na verdade você mesmo antes se alimentava da crença deles, ou seja: só se levava a sério por causa dos elogios. E agora, quando não há mais as palmadas nas costas... quando você já não é mais uma criança madura demais pra sua idade, agora você travou. E no fundo, travou não apenas na exibição mas também no próprio desenvolvimento. Eu diria mesmo que na verdade, agora você mesmo apenas quer assistir seu próprio fracasso: ou não é verdade que na sua mente, ontem mesmo, passou que a morte seria uma boa fuga?



E - Mas eu confesso que de fato tenho estado com medo por me sentir só... mas antes eu nem me sentia acompanhado, apenas mais ou menos admirado... Eu me perdi nisso, me arroguei e mais me admirei do que estudei... eu não deixei de estudar: mas não como devia. E diante... diante de grandes conflitos eu travei por temer perder as considerações da platéia, foi por isso que fugi do colóquio da FLT. É por isso que eu tenho fugido de muita e muita coisa...



A - Então é necessário que você se erga e aceite a solidão. Ela é dura, mas não é possível contar com as multidões. Fique cego, surdo e mudo para as multidões... olhe para aquilo que você sabe que é a única coisa que você tem que fazer e faça. 

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